19° dia de Quarentena - As compras

É preciso comer. Mesmo no meio desta loucura ou, se formos a ver bem a coisa, ainda para mais no meio desta loucura. Que a comida traz conforto e é isso que se quer nestes tempos. E, se precisamos de mais razões, tenho a dizer que cresci a ouvir que quem não serve para comer também não serve para trabalhar. E se é verdade que meio mundo está a trabalhar devagar e devagarinho, também não deixa de ser verdade que o corpo precisa de alimento. O corpo e o tédio.

São 19 dias sem passar da porta de casa e a ver a rua pela janela. 

As compras acabam por encontrar o seu caminho. De vez em quando, lá se ouve a campainha e ali estão elas. Com o que havia daquilo que se pediu que estes são tempos difíceis e desesperados. Mais desesperados que qualquer outra coisa é o que percebemos quando vemos carrinhos de supermercados a vergar com o excesso de peso, mas isso dava pano para mangas em conversas que não interessam agora. Fiquemos com o "Cala-te boca" e o assunto fica arrumado.

São 19 dias e não vi uma única fila de supermercado. Sei do que ouvi dizer, é o que é. E já se sabe que quem conta o que lhe contaram, tem sempre algo a acrescentar. 

Mas as compras lá aparecem. Pela família que ainda se aventura nas ruas quase desertas. Ou porque do outro lado da estrada nos chega a encomenda tal e qual como a pedimos e não só. Traz um bocadinho do que faz falta neste momento e que não entra em nenhuma lista. Que isto são tempos difíceis, isso é verdade, mas nestas alturas é que estamos lá uns para os outros. Da maneira que cada um pode ou sabe.

E ao 19° dia, as compras chegaram com um abraço daqueles que são permitidos nestes tempos incertos. Porque estamos afastados e assim continuaremos, mas não estamos sozinhos. 

Comments

  1. Felizmente, em casa, não me entedio. Comer, acho que como demais. Depois conto.

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