46° dia de Quarentena - A ironia

São vinte e quatro horas por dia em casa. Às vezes tenho a sensação que o dia esticou para trinta e seis horas e que ninguém nos avisou. 

46 dias em casa. Muda a nossa perspectiva, não?

Tenho os dias ocupados. Quando não tenho como os ocupar, invento. Sempre sofri de bicho carpinteiro e não sou boa para ficar sossegada um dia inteiro. Cada qual com as suas manias, é o que é. E em casa, há sempre o que inventar.

Ontem, inspirada pelo sol que começava a espreitar e empurrada pela roupa de Verão lavada e passada que aguardava arrumação, dediquei-me às mudanças. De armários, nada mais. Roupa de Inverno a dar lugar à de Verão. Camisolas guardadas até que venha o seu tempo. T-shirts a ocupar o seu lugar. Escolher o que fica, o que vai e já sentir aquele ar de maresia a que não vou ter direito este ano.

São 46 dias a arrumar tudo o que precisava de ser arrumado. E até aquilo que não tinha necessidade nenhuma.

O que começou na roupa passou para os sapatos. Aproveitado o caminho, foi pano aos móveis, janelas a deixar entrar o ar e esfregona de uma ponta à outra. Isto só numa divisão. Estamos de quarentena em modo de Verão, mas deixemos as loucuras para outros anos. 

Hoje, contam-se 46 dias. Só por graça, o dia amanheceu assim para o nublado. Tem sentido de humor, é o que é.