A passagem de ano

Este ano todos temos desculpa para as resoluções de ano novo que nunca passaram de passas engolidas à pressa. Bem vistas as coisas estamos a entrar em Outubro. Folhas a cair, camisolas e castanhas assadas. Alguma chuva à mistura e, quando se der por isso, lá estamos nós no Natal. Seja lá isso o que for este ano.

Entretanto passaram nove meses. Seis em pandemia. Uma gripezinha que não era assim tão zinha nem sequer gripe. Ainda me lembro de, lá para Fevereiro, achar que isto não era nada, histerismo a mais e pronto. A ingenuidade é uma coisa linda. Estamos sempre a aprender, é o que é. Agora tenho toalhitas desinfectantes à porta, gel na mala, máscaras descartáveis no quarto e umas quantas reutilizáveis penduradas ao pé dos colares que não uso. Nem colares nem relógio. Ainda me lembro da altura em que os usava para controlar o atraso dos comboios. Esses saudosos dias de stress e espera. Muita espera.

Foram-se os comboios, figurativamente falando, e montou-se arraiais em casa. Ou seja, o computador está sempre montado na secretária lá de casa que já mudou de localização umas três vezes. É o resultado de ficar em casa. Mudou o escritório, arrumaram-se gavetas várias vezes, os saltos deram-se por esquecidos e acumulou-se farinha.

A vida mudou. O que era dispensável ficou de fora e não voltou a entrar. Vieram os tempos mais calmos, com o que realmente é necessário. Irá voltar a mudar quando a Covid se for. Nessa altura faço uma nova passagem de ano. Que venha o stress de que me queixava. Mas em doses mais moderadas. Que fique o que de bom se aprendeu nestes tempos. E que venham os abraços apertados e os beijos repenicados, mas com conta peso e medida que eu nunca fui muito dessas coisas. 









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