Não tenho tempo

Não andamos todos na boa vai ela. Andamos mais contidos porque a vida mudou sem que estivéssemos à espera. Por isso, vamos andando. Aos poucos de cada vez e a chegar para o outro lado sempre que vemos alguém lá ao longe. Mesmo que seja lá bem ao longe.

Um olá dito assim de fugida, mais com gestos do que com palavras que essas são engolidas e o que resta sai num sussurro. Vamos lá agora abrir a boca assim, à vontade, se nem conseguimos ver onde anda o tal o vírus. Vai daí e uma abertura indevida dá entrada ao dito cujo e pronto, está tudo estragado. Fecha a boca ou entra vírus. Boca, olhos e nariz. O melhor é fechar também a porta e esperar que passe isto tudo. 

Assim, com tantos quês e porquês, vem a calma do distanciamento e com ela faltam as desculpas. Quem é que pode dizer que não tem tempo quando o que temos se vai passando por casa? A maior parte pelo menos. Já se fazem umas saídas assim mais descaradas que dão sempre umas fotografias boas para o facebook e instagram, mas é tudo tão rápido que ainda sobra tempo. 

Já não há rooftops nem sunsets e temos de nos contentar com o terraço lá de casa para ver um pôr do sol pelo meio das telhas do vizinho. A medir os metros que nos separam de quem está ao nosso lado. 

E agora, que nos sobra o que sempre dizemos que nos fazia falta, o que é que fazemos com ele? Que desculpas arranjamos para não fazer aquilo que sempre se jurou que só não se fazia porque "eu tenho lá tempo para isso". 

Agora temos tempo. Será que alguma vez tivemos vontade? 






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