O pão da minha avó

Nunca encontrei pão como o da minha avó. Com aquele sabor de massa amassada sem dó nem piedade durante uma eternidade e que ao fim de sete dias de cozido ainda se comia com a mesma satisfação dos primeiros dias.

Antigamente, quando a minha avó era nova e eu nem era imaginada, os tempos eram difíceis. Aliás, difíceis é eufemismo. Eram tempos em que tudo faltava. Mas enquanto havia água, farinha e força de braços lá se arranjava um pão.

Eu, talvez por influência desta avó padeira, sempre me quis dedicar a tal arte, mas foi preciso uma pandemia para me aventurar a sério. Agora, tenho um frasco de massa mãe no frigorífico que alimento dois dias antes de cozer. No meu pão só há farinha, água e sal. Tal como o que a minha avó fazia. Nada de químicos, só muita paciência, mas saber esperar é uma virtude, segundo dizem. 

Enquanto escrevo, espero que duas bolas de massa terminem de levedar pela segunda vez para as levar ao forno. O minha massa não passa pelo frigorífico nem leva dobras de hora a hora como ensinavam nos tutoriais da internet. A minha massa leva o trabalho que a minha avó punha na dela. Faz-se cedo, para ir ao forno no mesmo dia. Sai a estalar e com o cheiro que me faz pensar que tenho quatro anos.

Um dia o meu forno será a lenha como aquele em que a minha avó cozia e aí ficará perfeito. Até lá, faz-se no forno eléctrico com o resultado final aprovado por quem sabe. A minha avó.



Comments

  1. Eu faço farinha em Moinho de vento, com os trigos antigos, como o meu avô moleiro fazia, grande mestre🌾💯🇵🇹

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