O primeiro dia

Mudou. A rua encheu-se de silêncio. Portas fechadas e a luz do interior a passar pelas cortinas. O cheiro a lareiras. O fumo do fim de tarde. Uma calma aparente nestes tempos que não se conhecem.

Não se ouve um carro que seja e isto tem muito que se diga quando se vive ao lado de um cruzamento que, por estranho que pareça a quem tem uma ideia pacata das aldeia, prima pela agitação.

Foi a vida que parou sem o chegar a fazer. Nós cá continuamos só não reconhecemos esta vida que dizem ser nossa. Fechamos as portas mais cedo, estacionamos os carros à hora de almoço como se fosse fim do dia e damos o dia por terminado ainda antes de nos sentarmos à mesa.

Nós, que andávamos sempre tão cheios do que julgávamos saber, percebemos que o mundo tem vontades que pouco se preocupam com as nossas rotinas ou desejos.  Agora, fechados em casa, percebemos isso pela segunda vez. E agora, voltamos a perceber que as nossas queixas sobre a vida que tínhamos há um ano não tinham qualquer fundamento. 

Lá fora, silêncio. O carro arrumado. A cozinha arrumada. As saídas não passam de uma caminhada rápida para que a cadela estique as pernas. Até que o relógio volte a marcar as 6h. Aí, por sete horas, a vida volta à normalidade possível. Antes de voltar o silêncio e as portas fechadas. 

São dois fins-de-semana assim. Pelo menos. 





Comments

  1. Uma tranquilidade assustadora e simultaneamente saborosa!!!
    Bom domingo

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