18º dia de Quarentena - Nasce o blog

A casa de cada um passou a ser o seu mundo. Tornou-se no escritório, na escola, no ginásio e em tudo aquilo que há pouco tempo se fazia em correrias de um lado para o outro, com agendas para seguir e o medo de chegar atrasado a todo lado. Agora, estamos sempre a horas porque o relógio passou a ser só nosso e o mundo faz-se dentro de casa.

Faz dezoito dias que saí de casa pela última vez. 

Aqui, não há uber eats nem glovo que toque à campainha, mas temos vizinhos que se unem e negócios que se reinventam. Vivemos a outro ritmo, mas, bem vendo as coisas, por aqui sempre foi assim. A diferença é que agora ninguém bebe o mata bicho no sítio do costume. Agora as portas estão fechadas e a cada cumprimento segue-se uma despedida terminada com "Mantêm-te a salvo". 

Faz dezoito dias que vejo o mundo pelas redes sociais e que decidi só ver um telejornal por dia.

Ninguém passa lá fora e são poucos os carros que se ouvem. Um, muito de vez em quando, e pouco mais. A vida sempre se viveu a um ritmo diferente por aqui, mas parece que agora está ainda mais vagarosa. E nós cá estamos. A cada dia que passa, a fazer a vida da maneira que se pode. "Deus só nos dá aquilo que aguentamos", dizem os mais velhos, os que agora protegemos. Que tenham razão e que se aguente isto.

Faz dezoito dias que tenho na cozinha a distração para as incertezas do dia.

Agora que não há histórias antigas para ouvir porque as esquinas estão vazias, o Lá pela Terra entra em modo de quarentena e surge em jeito de diário destes tempos incertos que se vivem. Escrever lava a alma, é o que é.

Foi por isso que ao 18º dia, criei um blogue. Outro.