21° dia de Quarentena - O Natal

Não o próximo, mas os que já passaram. O Natal do ano passado e o outro anterior e ainda o que veio antes desse. As prendas recebidas em êxtase e guardadas. Para quando houvesse tempo. Porque não era aquela ocasião especial. Ainda. Nunca foi.

Conto 21 dias sem sair de casa.

As prendas são redescobertas. Os jogos que ficaram a um canto, para quando os amigos se juntassem. Os livros que foram guardados porque não havia tempo para ler. As receitas para as quais era preciso tempo e cabeça para fazer. Desculpas, somos mestres nisso, não é?

E são 21 dias. Com tempo. Sem ocasião especial que justifique. Sem amigos que se sentem no sofá connosco. 

O livro de receitas saiu da prateleira da cozinha e veio para a mesa da sala. Saíram vários. Espalhados por onde calha porque os tempos são outros.

Ao fim de 21 dias há ali uma maçã ou outra que já avista o fim de vida útil. 

Escolhe-se a receita. Francesa, sempre tem aquele toque chique. Um bolo. Não, uma tarte. Agora, gastar dinheiro em açúcar já não é desgoverno como quando os nossos avós andavam pelas nossas idades por isso o melhor é aproveitar.

Vai o açúcar, a amêndoa e os ovos. A massa feita à mão que é no que dá ter tempo e não ir ao supermercado. E depois é só esperar. Deixar cozer e vê-la crescer com o calor. Lamber os lábios com a expectativa.

Aos 21 dias houve Tarte Normande de Maçã e a prenda de Natal saiu da estante. 


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