As escolhas

 Habituei-me à surpresa dos outros quando dizia onde vivia. Sei que fica longe. Que quando toda gente vai para a terra onde têm a casa que era dos pais ou dos avós ou de um tio qualquer que morreu sem filhos, dizem que isto é um esticão daqui até Lisboa.

Foi esta conversa que deu origem ao Lá pela Terra. Quando um dia, cansada de tanta conversa sobre os quilómetros que fazia para chegar ao trabalho e voltar a casa, escrevi um texto sobre esta coisa de viver na aldeia. Na altura irritava-me, com o tempo habituei-me à conversa e compreendi o outro lado. Quem nunca viveu aqui, vai sempre avaliar a vida numa aldeia pelo número de quilómetros que nos separa do trabalho, do cinema ou do hospital. Vão sempre achar que viver na aldeia é coisa para fins-de-semana ou uns dias nas férias antes de rumar ao Algarve. Tudo isso é aceitável. Tal como a minha escolha em ficar por aqui.

Agora, se há algo de bom neste vírus que nos deixou num limbo que não consigo classificar, é o reforçar de que fiz a escolha certa ao ficar aqui, na pacatez da aldeia. Quando aproveito o sol para almoçar no quintal ou ligo a música um pouco mais alto. 

Viver na aldeia não é para qualquer um. Há uma calma que tem de ser percebida. É preciso aceitar que o cinema e o teatro não está ao virar da esquina e que, infelizmente, o trabalho também não. É preciso compreender que viver fora da cidade está muito longe da imagem antiga que ainda habita na cabeça de muitos. Já temos alcatrão nas estradas, água canalizada e fibra, imaginem. 

Isto não é para qualquer um, mas quando se aceita a calma e nos habituamos a fazer mais uns quilómetros para trabalhar e a fazê-los render, percebemos que viver aqui é um privilégio.



Comments

  1. Que linda escolha e agora realmente és privilegiada. Quem está mais longe dos grandes centros tem a natureza pertinho e ajuda aos dias de pandemia vencer! Que amor a foto!beijos, lindo fim de semana!

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